segunda-feira, 28 de abril de 2008

LITERATURA

NEOCLASSICISMO OU ARCADISMO PORTUGUÊS

Movimento artístico e literário onde os autores neoclassicistas rejeitavam o resbucamento barroco e, pelo contrário, decidiram restabelecer a simplicidade e a clareza, voltando aos modos clássicos, ou renascentistas. Talvez essa simplicidade tenha parecido mais artificial que o esperado.

QUANDO
Na Itália tem início em 1690 com a fundação de uma sociedade literária para combater o barroquismo. Em Portugal, ocorreu o mesmo, só que em 1756, período pombalino. O movimento durou até 1825, com o início do Romantismo.

CONTEXTO HISTÓRICO
É um momento em que Portugal assiste e embolsa os lucros do ciclo minerador no Brasil. Além disso, tem Pombal ascendendo à cúpula real portuguesa. Tentou colocar Portugal a par do Iluminismo europeu.
É também no período do Arcadismo que se espalha o Laicismo, o liberalismo, o empirismo. Pois na Europa ocorre a Revolução Industrial, na Inglaterra, e a Revolução francesa, que atinge todo o continente.

POR QUE O NOME?
As reações anti-barrocas iniciaram na Itália com a fundação de uma sociedade literária, a Arcádia. Mais tarde, em 1756, foi fundada em Portugal a Arcádia Lusitana. Daí o nome Arcadismo.
Quanto ao outro nome, faz referência à retomada dos aspectos clássicos. Daí Neoclassicismo.

PRODUÇÃO
Poesias - destaca-se Bocage. Aqui estão algumas de suas obras:
SONETO DO PADRE PATIFE
SONETO DO CARALHO POTENTE
SONETO DO PRAZER EFÊMERO
SONETO AO ÁRCADE LERENO
SONETO AO VIL INSETO
SONETO DO RETRATO MAL-FALADO
SONETO MAÇÔNICO
AUTO-RETRATO
SONETO DO MOURO DESMORALIZADO
SONETO DO CORNO INTERESSEIRO
SONETO DA DAMA CAGANDO
SONETO DA PUTA NOVATA
SONETO ASCOROSO
SONETO DA PORCARIA
SONETO DO CORNO CHOROSO
SONETO DA BEATA ESPERTA
SONETO DA SUPOSTA SANTA

Nas artes pláticas, destacam as pinturas de Jacques Louis David














e de Dominique Ingres.



















IDENTIFICAÇÃO

- contém personagens mitológicos
- ares de bucolismo e pastoralismo
- idealiza a natureza
- a cidade é vista como suja
- preferância ao equilíbrio sobre os extremos
- estoicismo: desprezo aos prazeres e luxo
- desprezo ao clero e à nobreza

AUTORES

Bocage - o boêmio devasso
Ganhou fama de piadista e poeta pornográfico. Escreve com uma espécie de pré-romantismo.
Português, desertor do serviço militar, fugiu para a China. Quando de volta, teve a decepção de encontrar sua amada Gertrudes casada com seu irmão Gil Bocage.
Preso por causa de suas sátiras consideradas ofensivas ao governo e à Igreja, morreu aos 40 anos em Lisboa.


EXEMPLOS

SONETO DE TODAS AS PUTAS
Manuel Du Bocage

Não lamentes, oh Nise, o teu estado;
Puta tem sido muita gente boa;
Putíssimas fidalgas tem Lisboa,
Milhões de vezes putas têm reinado:

Dido foi puta, e puta d'um soldado;
Cleópatra por puta alcança a c'roa;
Tu, Lucrécia, com toda a tua proa,
O teu cono não passa por honrado:

Essa da Rússia imperatriz famosa,
Que inda há pouco morreu (diz a Gazeta)
Entre mil porras expirou vaidosa:

Todas no mundo dão a sua greta:
Não fiques pois, oh Nise, duvidosa
Que isso de virgo e honra é tudo peta.


SONETO NAPOLEÔNICO
Manuel Du Bocage

Tendo o terrível Bonaparte à vista,
Novo Aníbal, que esfalfa a voz da Fama,
"Ó capados heróis!" (aos seus exclama
Purpúreo fanfarrão, papal sacrista):

"O progresso estorvai da atroz conquista
Que da filosofia o mal derrama?..."
Disse, e em férvido tom saúda, e chama,
Santos surdos, varões por sacra lista:

Deles em vão rogando um pio arrojo,
Convulso o corpo, as faces amarelas,
Cede triste vitória, que faz nojo!

O rápido francês vai-lhe às canelas;
Dá, fere, mata: ficam-lhe em despojo
Relíquias, bulas, merdas, bagatelas.


[SONETO DE TODOS OS CORNOS]
[José Anselmo Correa Henriques]

Não lamentes, Alcino, o teu estado,
Corno tem sido muita gente boa;
Corníssimos fidalgos tem Lisboa,
Milhões de vezes cornos têm reinado.

Siqueu foi corno, e corno de um soldado:
Marco Antonio por corno perdeu a c'roa;
Anfitrião com toda a sua proa
Na Fábula não passa por honrado;

Um rei Fernando foi cabrão famoso
(Segundo a antiga letra da gazeta)
E entre mil cornos expirou vaidoso;

Tudo no mundo é sujeito à greta:
Não fiques mais, Alcino, duvidoso
Que isto de ser corno é tudo peta.


SONETO DA DONZELA ANSIOSA
Manuel Du Bocage

Arreitada donzela em fofo leito,
Deixando erguer a virginal camisa,
Sobre as roliças coxas se divisa
Entre sombras sutis pachacho estreito:

De louro pêlo um círculo imperfeito
Os papudos beicinhos lhe matiza;
E a branca crica, nacarada e lisa,
Em pingos verte alvo licor desfeito:

A voraz porra as guelras encrespando
Arruma a focinheira, e entre gemidos
A moça treme, os olhos requebrados:

Como é inda boçal, perde os sentidos:
Porém vai com tal ânsia trabalhando,
Que os homens é que vêm a ser fodidos.